Com mais de R$ 8 bilhões negociados, analista financeiro fala sobre o impacto do programa Desenrola Brasil no mercado

De acordo com dados de julho da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as instituições financeiras já renegociaram cerca de 1,2 milhão de contratos em apenas quatro semanas de atividade do Desenrola Brasil. O programa do Governo, que visa a renegociação de dívidas entre pessoas físicas com os bancos, vem sendo uma tentativa de diminuir a inadimplência no país. 

Para o analista financeiro Valtair Justino, é interessante pensar em como esses negativados irão se comportar após a renegociação. As pessoas mais responsáveis, por exemplo, tendem a ser consumidores mais conscientes não apenas ao crédito, mas também ao consumo. Nesses casos, elas darão garantia de pagamento e, assim, a economia é aquecida e o dinheiro é distribuído para os demais setores.

“Uma pessoa que não é mais inadimplente, pode financiar um carro, por exemplo, e estimular o segmento automobilístico. Dessa forma, as ações do mercado neste setor acabam subindo e, acompanhadas de outros segmentos, como do aço que é necessário para a fabricação dos carros. Você vê uma conexão do setor bancário, automobilístico, de minério e outros”, explica.

Segundo dados do Serasa, foram registrados 71,45 milhões de brasileiros negativados no último mês de junho. O Desenrola Brasil, que tem a expectativa de diminuir esses números, está na sua segunda faixa, focado em resolver dívidas de pessoas físicas com débitos até 31 de dezembro de 2022 e com uma renda de até R$ 20 mil.

Além de ser vantajoso para aqueles que estão devendo, o analista de investimento Valtair Justino acredita que os bancos que possuem uma carteira de crédito mais voltada para as pessoas físicas estão sendo beneficiados pelo programa. Para ele, essa consequência vem resgatando não só valores, mas aproximando esses ex-inadimplentes das próprias instituições.

“O banco vive de empréstimos feitos, que seria ‘vender dinheiro’. Então quando você traz os valores que ele nem contava mais, com esse dinheiro ele começa a ter mais liquidez e mais dinheiro para emprestar. A máxima do mercado é que o preço de uma ação acompanha o lucro da empresa. Quanto maior o lucro, maiores serão as cotações e os valores de mercado”, explica.

Ainda de acordo com Valtair, é importante acompanhar a representatividade do programa, se realmente irá aderir boa parte dos negativados. De toda forma, temos um estímulo à economia, principalmente nesse momento que vivemos com o Banco Central diminuindo o valor da Taxa Selic para 13,25%.